Larrasoaña a Cizur Menor. 21 km. 8h às 16h.
Dureza. Se tivesse que resumir a caminhada de hoje com uma palavra, seria essa (Ah, que injusto! Também foi um dia lindo, cheio de insights, trocas e desapegos).
De manhã, quando
estava pronta para caminhar, descobri a origem da dor do dia anterior: do tênis!! Meu tênis era bem velho, e, pelo o que eu
lia na internet, ninguém recomendava comprar um tênis novo para estrear no Caminho.
Acho que ele deformou um pouco na parte de dentro depois da chuva do primeiro
dia, o que, com o peso da mochila e as longas caminhas diárias, passou a me
machucar. E muito!!
Não era possível. Aos 15 min do primeiro tempo eu já tava pedindo pra sair! A dor estava tão forte que era impossível caminhar. Como assim?? E agora??
Só que o Caminho é mágico e sempre lhe dá o que você precisa, no momento certo. Quando eu estava prestes a tirar o tênis e colocar meu chinelo havaianas (sim, qualquer coisa, menos aquele tênis!), Justin me emprestou o seu Crocs (aqueles calçados de borracha) e Stefan um de seus bastões de caminhada. Pronto. A felicidade de poder caminhar e ver paisagens como essa da foto, mesmo com dor e aos trancos e barrancos, era enorme.
Não era possível. Aos 15 min do primeiro tempo eu já tava pedindo pra sair! A dor estava tão forte que era impossível caminhar. Como assim?? E agora??
Só que o Caminho é mágico e sempre lhe dá o que você precisa, no momento certo. Quando eu estava prestes a tirar o tênis e colocar meu chinelo havaianas (sim, qualquer coisa, menos aquele tênis!), Justin me emprestou o seu Crocs (aqueles calçados de borracha) e Stefan um de seus bastões de caminhada. Pronto. A felicidade de poder caminhar e ver paisagens como essa da foto, mesmo com dor e aos trancos e barrancos, era enorme.
Entretanto, fui
obrigada a caminhar mais devagar que todos nesse dia. Todas as pessoas passavam
por mim. E eu, que no início ultrapassava todo mundo e pensava ‘rá, seu
fraco!’, era a fraca da vez. Comecei a pensar porque isso estava acontecendo e
como era possível eu, que sempre fui tão forte e saudável, estar me arrastando
feito uma lesma (no terceiro dia!).
Ao longo do dia, fui desapegando de querer ser rápida. E, diferente dos outros dias, caminhei boa parte do tempo sozinha, conversando vez ou outra com alguém. Foi ótimo, e vi como eu estava precisando disso.
E foi ótimo
também para perceber que o caminho deu um jeito de me colocar pra dentro dele
de uma vez, logo no início, já de cara. Pra eu me dar conta de coisas que
talvez só fossem fazer sentido depois de muitos dias de caminhada. Como, por
mais simples e idiota que pareça, pra eu parar de querer ultrapassar as
pessoas! Hehe
Ninguém é melhor
ou mais forte só porque caminha mais rápido. E de fato, eu percebi que na
verdade eu gostava de caminhar mais devagar. Aquela correria dos primeiros dias
estava me deixando ansiosa, correndo pra chegar em algum lugar sem de fato
aproveitar o caminho. E não é como deveria ser? De que adianta chegar no
albergue no fim do dia, ou mesmo em Santiago no fim da jornada, se não se
aproveitou o caminho? E não é o mesmo com a vida?
Pamplona. |
Chegando em Pamplona, tive minha primeira grande troca. Justine estava se despedindo (seguiria mais rápido pra pensar no que fazer, já que o namorado dela tinha sofrido um acidente, lembram?). Então trocamos, fiquei com o Crocs e dei a ela o meu chinelo. Pode ser simples, parecer tosco o que eu vou dizer, mas eu gostava do meu chinelo! Hahaha. Mas é, tem horas que a gente precisa deixar ir o que precisa ir pra dar lugar a algo novo. Era isso o que eu precisava AGORA. E pronto, agora eu tinha meu mais novo calçado de caminhada até meu pé ficar bom novamente e eu poder providenciar um novo tênis.
Catedral de Pamplona. |
Em Pamplona, o
almoço foi um agradável pique-nique no parque com a galera que estava no
albergue na noite anterior. Aos poucos fui conhecendo aquelas pessoas, suas histórias
de vida e motivações: Stefan, Andrew, Nate (you’re finally here!), Susanna, Trevor, Alex.
Depois de ficar um tempo sentada no parque, meu corpo esfriou e, quando voltei a andar, meu deus! Meu pé doía muito e foi um sacrifício caminhar. Seguimos juntos até a próxima cidade, Cizur Menor. Pelo menos conversar com outas pessoas tirava o foco da dor e me mantinha caminhando. A idéia do pessoal era seguir para outra cidade e até comentei com o Alex que eu não sabia se conseguiria caminhar.
E que agradável! |
Depois de ficar um tempo sentada no parque, meu corpo esfriou e, quando voltei a andar, meu deus! Meu pé doía muito e foi um sacrifício caminhar. Seguimos juntos até a próxima cidade, Cizur Menor. Pelo menos conversar com outas pessoas tirava o foco da dor e me mantinha caminhando. A idéia do pessoal era seguir para outra cidade e até comentei com o Alex que eu não sabia se conseguiria caminhar.
Quando chegamos
em Cizur Menor, eu não queria me separar, não agora, queria conhecer aquelas
pessoas, e me preparei psicológica e fisicamente (renovando alguns esparadrapos
preventivos de bolhas) para caminhar mais, por mais difícil que fosse ser. Eis
que quando me junto com eles, todos falam
(sorridentes) que vão ficar, não querem seguir até a próxima cidade. Eu digo
que estou bem, que posso seguir com eles, mas todos insistem e inclusive dizem
que se eu quiser muito, posso ir sozinha. Eles não sabem, talvez fiquem sabendo
agora, mas naquele momento, tive que me segurar MUITO pra não chorar. E só me
segurei porque ‘ainda era muito cedo pra eu ficar chorando na frente de
desconhecidos!’. Bobagem né?! Hehehe Não sei, aquilo me tocou de alguma forma...
O albergue tinha
um jardim extremamente agradável, tão convidativo que foi uma das poucas vezes
que consegui praticar umas posturas de yoga no caminho. Nesse albergue, tinha uma senhorinha
que olhava e cuidava dos pés dos peregrinos. De bolhas na verdade, então como o
meu problema (por enquanto) era interno, ela não tinha muito o que fazer.
A janta foi
compartilhada. Andrew cozinhou, auxiliado por Susana, e todos comemos e bebemos
vinho. Ficamos conversando e jogando cartas até ‘tarde’ (umas 23h! hehe). Bem
divertido. Estar só e estar
junto, bom demais! Emprestando coisas, fazendo favores, dividindo a comida. Uma
hora você dá e outra hora recebe. Parece que é assim que funciona. Esse é o
Caminho. (escrevi isso SEM FAZER IDEIA do que iria me acontecer no dia
seguinte. Simplesmente mágico!).
E a GRATIDÃO no final
de todos os dias é algo tão grande que não cabe no peito!
O relaxamento, a paz, o banho... Ah o banho! Você
não fica mais tão exigente com eles. E são sempre diferentes. Não dá tempo de
se acostumar com nada. Todo dia é tudo novo.
Todo o dia é o desconhecido. E
qualquer conforto a mais que se tenha é um luxo e uma alegria (como ter locais
para apoiar o shampoo e o sabonete no banheiro).
E é... o
problema nos meus pés certamente apareceu para me colocar no Caminho. Para eu viver
e sentir essas coisas desde o começo, durante todo o percurso. Porque depois da dor, a
gratidão aumenta, a compaixão aumenta, você aprecia e dá valor para as pequenas
coisas da vida, e os dias se tornam... Mágicos!
E aí? Encontrou os desapegos do dia? Tá fácil né? E já vi que tem
bem mais de dois...
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