Roncesvalles a Larrasoaña. 27.5 km. 7h15 às 15h30.
Depois de uma noite
mais ou menos bem dormida, apesar de alguns roncos, acordamos cedo. Segundo dia
da rotina que iria me acompanhar pelas próximas cinco semanas: acordar e
empacotar.
Ah, não é super
legal arrumar a mala, muito menos fazer isso todos os dias. Mesmo com uma
mochila pequena, eu sempre tinha que tirar tuuudo de dentro e colocar tuuudo de
novo, caso contrário as coisas não iriam caber, ou ficariam desconfortáveis,
com um lado mais pesado que o outro, por exemplo. Pensei em quando eu iria cansar
de ter que arrumar a mochila todo o santo dia. Na verdade nesse dia eu já
estava achando isso um pouco chato.
Na escuridão das
7h da manhã, começamos a caminhar. Para não perder tempo e ‘largar na frente’ dos
outros peregrinos (afinal, eu ainda estava no clima de corrida, lembram?),
decidimos tomar café da manhã em Burguete, o vilarejo seguinte. Tenho que
admitir, eu não gosto de acordar super cedo. Estar caminhando as 7h fez com que
eu acordasse pelas 6 e pouco da manhã. Não sei quanto a vocês, mas pra mim isso
é super cedo. Mas ok, eu estava feliz por poder ver o sol nascer todos os dias
(até eu me dar conta que eu não precisava – e nem queria – fazer isso TODOS os
dias).
Amanhecer em Burguete. |
Achei que o caminho seria mais leve hoje, mas nem tanto, teve algumas boas subidas e descidas. Claro, nada comparado com o dia de ontem. Passei o dia caminhando com Stefan e Justine, me perguntando se eu não deveria caminhar mais sozinha. Afinal, eu fui fazer o Caminho de Santiago, teoricamente um local para uma busca pessoal e interior... E como assim eu estava passando os dias com outras pessoas?
Mas uma coisa
que eu também sabia é que NÃO EXISTEM REGRAS, o caminho não tem que ser assim
ou assado, com pessoas ou sem pessoas. Cada um escolhe o seu. Se está fazendo bem
e está sendo proveitoso, isso é o que importa. Não é porque você soube de
alguém que fez o caminho de uma forma diferente que significa que o seu está
“errado”. De forma alguma!
Eu sentia que
por enquanto estava bom. Estava me dando bem com aquelas pessoas, tínhamos
vários interesses em comum e coisas para compartilhar, então não havia motivo
para forçar uma separação. E só depois é que, de fato, fui ter a consciencia de
que o autoconhecimento não se dá sozinho. É necessário entrar em relação para
se conhecer, através dos outros, dos acontecimentos a nossa volta e das nossas
reações frente a essses acontecimentos.
Pouco antes de
pararmos em um supermercado em Zubiri (uma cidade antes de Larasoaña, a qual
não tem muita estrutura), adivinhem quem chegou? Mais cedo do que o previsto e
o esperado, chegou ela, a tão desagradável DOR. Claro, dores musculares eu já
estava sentindo.. mas eram as tais ‘dores boas’, que sentimos após praticarmos
exercícios.. e eu sabia que logo meu copo se acostumaria com a rotina. Mas essa
dor era diferente, não era boa. Doía a lateral do meu pé, um local
completamente inusitado e sem razões aparentes para estar doendo. Sério, não
tinha absolutamente NADA na parte externa do meu pé.
No final do dia
foi horrível, eu mal conseguia caminhar. Muito menos entender de onde diabos
surgiu essa dor. Como assim, uma dor bizarra no segundo dia de caminhada?? No
SEGUNDO DIA de caminhada. S-E-G-U-N-D-O dia! Não era possível (segundo
dia??!!). Como assim eu?? Que fui atleta durante tantos anos na infância e
adolescência, que pratico yoga, que nem sou tão velha assim (pq na minha cabeça
a dor só chegaria para os velhos, ainda mais uma dor que começa no SEGUNDO
dia).
Molhei meu pé no
rio (tão gelado que era impossível manter o pé na água por muito tempo). Stefan
aplicou um pouco de cura quântica e reiki. Tudo bem, vou descansar hoje que
amanhã vai passar (aham, claro). “Não quero ficar mal! Quero caminhar!”, era
tudo o que eu pedia.
Larasoaña - água gelada em Outubro. |
Em Larsoaña
ficamos no albergue municipal. Foi bem barato, uns 4 euros. Só que se um dia eu
fizer uma lista dos PIORES albergues do Caminho de Santiago, esse certamente
vai entrar, pelo BANHEIRO!
Apenas um para
homens e mulheres. Até aí tudo bem. O problema é que só tinha um vaso
funcionando e dois chuveiros. E pensa num box sujo, mas podre! Além da sujeira,
pouca água e não muito quente. Praticamente um banho de gato. As camas também
não eram lá essas coisas... eram beliches de metal. Creio que tinham uns 6
beliches no nosso quarto (todos com pessoas, então façam as contas, 6x2 = 12
pessoas para 1 vaso sanitário). Tá, posso estar exagerando, não foi tão ruim
assim, mas também não foi muito bom! hehe
Albergue municipal. |
Larasoaña |
Realmente não havia
quase nada na cidade. Encontramos uma quitanda para comprar o que faltava para
fazermos a janta: massa com molho vermelho e atum. Melhor que qualquer ‘Menu do
Peregrino’. Na mesa ao lado, vinho. Confesso que morri de vontade de tomar,
ainda mais porque vi eles compartilhando, bem alegres. “Que caretas, que sem
graça, não temos vinho”. O que eu não sabia é que eles viriam a se tornar
grandes parceiros de viagem e que iríamos todos juntos até o fim (alguns até o
fim do mundo).
On the way:
Compartilho aqui duas placas que chamaram a atenção no dia de hoje.
bom caminho a voce. força sempre.
ResponderExcluirYou have yet to mention me!!!! And I am one of the Pilgrims in that Albergue! Give the readers what they want, ME! I love reading your take on the Camino Raquel..I miss you too. You are my favorite monkey.
ResponderExcluirTake it easy baby, your time will come! I wouldn't say now that I was afraid of you. :P
ExcluirAhaha.... my phone auto spelled Rachel! Raquel*
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