Existem inúmeras
possibilidades, muitas rotas de peregrinação que vão até Santiago de
Compostela. Olhem esse mapa com alguns exemplos:
As rotas podem
ser feitas de acordo com a sua preferência e disponibilidade, você começa e
termina aonde quiser. Não há um ponto de partida único e oficial. Tem gente que
fecha a porta da sua casa na Alemanha, por exemplo, e começa a caminhar.
Fantástico! Algumas pessoas escolhem uma rota e, a cada ano, fazem uma parte
dela até chegar em Santiago.
Outros, ainda,
andam somente o necessário para ganhar a “Compostela”, que nada mais é do que
um certificado dizendo que você fez o Caminho de Santiago. São necessários, no
mínimo, 100 km de caminhada ou 200 km de bicicleta.
Optei por uma
rota que eu conseguisse completar em 5 semanas.
Fazer uma parte ou começar no meio do caminho, nunca me passou pela cabeça. Já
que me propus a fazer, seria do início ao fim. Até porque eu imaginava que,
depois de um longo tempo caminhando, alguma coisa em mim poderia mudar, e eu estava curiosa o suficiente para encarar
essa.
A dúvida ficou
entre o Caminho do Norte e o Caminho Francês. O primeiro inicia em Hendaye, na
França, e vai bem pelo norte da Espanha, sendo possível avistar o Mar Cantábrico em boa parte do caminho e, inclusive, chegar em algumas praias. Não é uma rota
tão movimentada quando comparada ao Caminho Francês, que é o mais popular. O
Caminho Francês começa em Saint-Jean-Pied-de-Port, na França. Ambos ficam a aproximadamente
800 km de Santiago, sendo o do Norte um pouco mais longo.
Tomar decisões
nunca foi muito fácil para mim, talvez o primeiro exercício do caminho tenha
sido esse. Depois de pensar e repensar, fiquei mais inclinada (ainda não 100%
decidida) a fazer o Francês, mesmo achando que seria incrível caminhar lado a
lado com o mar. Para chegar na Espanha, eu iria de avião até Santander. De lá,
teria mais de uma possibilidade para chegar em Saint-Jean-Pied-de-Port. Sendo
assim, decidi ir pelo caminho que ainda me permitiria pensar mais um pouco e
decidir a rota de caminhada.
A peregrinação
antes da peregrinação começou:
2h55 (da manhã):
Saí da casa que eu estava em Karlsruhe na Alemanha. Mochila nas costas e
coração na boca. Rumo ao desconhecido. Cheia de expectativas pois eu sabia que
viveria um montão de coisas, mas não fazia ideia do quê, nem de como isso iria
ser.
3h04 (sim, eles
são bem precisos com relação aos horários): Peguei um bonde até a estação de
trem.
3h37: Trem de Karlsruhe
até Heidelberg
5h20: Ônibus de Heidelberg
até o aeroporto de Frankfurt
9h55: Avião de Frankfurt
até Santander
12h: Chegada em
Santander
No aeroporto
encontrei um grupo de pessoas com mochilas e equipamentos de caminhada. Tive
que perguntar se eles iriam fazer o Caminho de Santiago (bem emocionada). Sim,
começariam ali, em Santander, e caminhariam uma semana. Era o terceiro ano, o
terceiro trecho de caminhada. No próximo, eles chegarão à Santiago.
13h: Chego na
estação rodoviária de Santander e descubro que o próximo ônibus para Irún sairá
somente às 17h.
Isso me deu bastante
tempo para conhecer a cidade. Tempo até demais. Passei a tarde circulando, começando
a me acostumar com o peso da mochila, comprando o que eu não pude carregar no
avião e matando tempo.
Baía de Santander. |
17h: Ônibus para
Irún. Coração continuava na boca. E o frio na barriga aumentando a medida que
chegava mais perto do início do caminho.
20h30: Chegada
em Irún.
É, eu estava num
espírito de ‘deixa a vida me levar’, ‘vai dar tudo certo’ e ‘o que tiver que ser
vai ser’. Só que já eram quase 21h e o centro de informações turísticas (que foi
meio caótico de encontrar pois as pessoas não sabiam aonde era) estava fechado!
A cidade era bem maior do que eu imaginava. Nada à vista, nenhuma placa, indicação,
pessoa de mochilão, nada!
Sem maiores
informações, mapas, e sem saber para onde ir, fui para a internet procurar um local
para dormir. Encontrei somente um albergue de peregrinos e uma pensão. Chegando
no albergue, adivinhem? Fechado!! Baixa temporada, só reabriria na primavera.
Eu não poderia esperar 5 meses, sendo assim fui em busca da pensão. E
adivinhem? Lotada! 22h30 e eu sem teto. Em último caso, dormiria na estação de
trem. Super seguro e confortável, tudo o que eu queria depois de um longo dia
que começou às 3h da manhã. Me indicaram outra pensão.
Cheguei lá, 35
euros (em torno de 100 reais) para passar uma noite, sem café da manhã. Era
isso ou a estação de trem. Azar. Me vê um quarto. Exausta, ainda um pouco
nervosa pela situação, mas feliz por ter um teto para passar a noite.
A decisão estava
tomada, com toda a certeza e com todo o coração. Caminho Francês. Não queria passar
por isso durante 5 semanas. Dias completamente sozinha, albergues fechados... Eu
queria ver gente, conhecer, interagir e poder escolher os momentos de ficar só.
Nunca me senti tão sozinha como naquele quarto de pensão. Acho que a gente se
sente mais seguro e forte quando passa por essas situações com pessoas ao nosso
lado. Pensar numa solução rápida, decidir e assumir a responsabilidade por tudo
isso, não foi fácil.
No dia seguinte,
peguei um metro até Hendaye, na França. De lá, peguei um trem para Sain-Jean-Pied-de-Port,
com uma conexão na cidade de Beyonne.
Em Hendaye, já
era possível ver pessoas com mochilas, botas e bastões de caminhada. Me chamou
a atenção um cara, com um guia na mão (que pude ver que era do caminho) e que
observava outras pessoas com mochilas grandes – assim como eu estava fazendo.
Na estação em
Beyonne, comecei a conversar com esse cara. Stefan, um alemão que falava um
pouco de português e já tinha morado um tempo em Ijuí, no interior do Rio
Grande do Sul. Conversa vai, conversa vem, finalmente chegamos em Saint-Jean. Chegamos
no início do Caminho de Santiago.
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